Cuidados por tipo de tecido – lã, seda, camurça e mais
- No Waste Brechó
- 29 de mai.
- 8 min de leitura
Atualizado: 31 de jul.
Cada tecido carrega uma textura, um peso, uma estrutura diferente. E por isso, exigem cuidados específicos. Entender o tipo de tecido de uma peça é o primeiro passo para conservar sua estrutura, evitar danos e aumentar sua vida útil.
Esse guia reúne os tecidos mais comuns que aparecem por aqui, com orientações práticas para quem quer manter sua peça bonita por mais tempo.
Se você chegou até aqui com uma dúvida (ou uma etiqueta apagada), espero que essas informações te ajudem. Sempre que surgir algo novo por aqui, esse post será atualizado.
Navegue direto pelo tipo de tecido:
Algodão, linho e fibras vegetais
São fibras extraídas de plantas. Resistentes e comuns em peças vintage, mas com algumas particularidades: o algodão pode encolher ou formar bolinhas dependendo da trama, e o linho tende a amassar — faz parte da sua natureza.

Algodão
Presente em camisetas, camisas, calças e moletons.
Pode encolher nas primeiras lavagens, especialmente se for cru ou mais antigo.
Prefira lavar em água fria ou morna, com sabão neutro.
Secadora acelera o desgaste das fibras — se possível, seque à sombra.
Camisetas mais antigas, com malha encorpada, se conservam melhor se lavadas do avesso.
Evite atrito com jeans ou zíperes — pode causar bolinhas, especialmente em peças mistas.

Linho
Aparece em camisas, blazers, calças e peças de alfaiataria leve.
Pode encolher um pouco nas primeiras lavagens — linho vintage geralmente não é pré-tratado.
Lave à mão ou em ciclo delicado. Evite deixar de molho.
Seque pendurado ainda úmido — o peso ajuda a “abrir” o tecido.
Passar é opcional: o amassado faz parte do visual. Se quiser, use vapor com o tecido ainda úmido.
Poliéster, nylon e outros sintéticos
Esses tecidos sintéticos apareceram bastante a partir dos anos 70 e 80, especialmente em peças esportivas, utilitárias ou com acabamento mais acetinado. São duráveis, secam rápido e não amassam com facilidade, mas podem reter odor, esquentar no corpo e formar bolinhas com o tempo.

Poliéster
Resiste bem à lavagem na máquina e seca rápido, mas pode reter cheiro com facilidade.
Tendência a formar bolinhas (pilling), especialmente em tecidos mais finos ou em mistura com algodão.
Lave do avesso, em ciclo delicado ou com peças semelhantes, para evitar atrito.
Evite ferro quente — o calor pode queimar ou “brilhar” o tecido.
Em roupas mais estruturadas (como vestidos vintage), pode deformar se guardado amassado por muito tempo.

Nylon
Comum em jaquetas leves, forros, calças esportivas e acessórios vintage.
Muito resistente, mas derrete com calor direto — nunca use ferro ou secadora.
Prefira lavar com água fria e secar ao ar livre, à sombra.
Pode craquelar em peças muito antigas ou guardadas dobradas por muito tempo.
Elastano / Spandex / Lycra
Aparece em pequena porcentagem em camisetas, jeans, vestidos e roupas justas.
Perde elasticidade com o tempo, especialmente com água quente ou centrifugação forte.
Evite secadora e calor excessivo.
Lave com delicadeza e guarde sem esticar.
Hoje, o poliéster aparece em praticamente tudo — muitas vezes como base de peças que imitam linho, lã ou algodão.
Mas nas peças vintage, o uso era mais pontual e, em geral, com acabamento mais durável.
Aqui no No Waste, a preferência sempre é por fibras naturais ou misturas de melhor qualidade. Nem todo sintético precisa ser descartado, mas vale prestar atenção ao toque, à resistência e ao caimento real da peça.
Viscose, modal e tecidos similares
Esses tecidos têm origem vegetal (geralmente da celulose da madeira), mas passam por um processo químico para virarem fibra. Por isso, ficam entre o natural e o sintético. São comuns em vestidos, camisas, blusas e peças de toque leve e fluido — mas a fibra molhada se torna frágil, e por isso exige mais cuidado na lavagem.

Viscose / Rayon
Presente em camisas, vestidos, saias e blusas mais soltas.
Quando molhada, a fibra perde resistência — pode esgarçar ou deformar com facilidade.
Lave à mão com sabão neutro e água fria. Não deixe de molho.
Enxágue sem esfregar e nunca torça.
Seque no cabide ou horizontalmente, sem dobrar ou prender com pregador.
Para passar, use ferro morno com o tecido ainda levemente úmido.

Modal e Tencel (Lyocell)
Mais modernos e um pouco mais resistentes que a viscose tradicional.
Toque macio, caimento bonito e amassam menos.
Podem ser lavados na máquina, em ciclo delicado.
Evite água quente e secadora — o calor excessivo ainda pode afetar a forma.
Se forem peças muito leves, seque na horizontal para evitar que estiquem.
Couro, camurça e materiais especiais
Esses materiais exigem cuidados específicos, já que não podem ser lavados com água e respondem mal à umidade, calor e atrito. Aparecem em jaquetas, calçados, cintos e acessórios — e, no caso do couro sintético, o tempo pode provocar descascamento ou craquelado. O ideal é limpar com delicadeza e guardar com atenção para evitar rachaduras.

Couro natural
Para sujeira mais leve, use um pano úmido (quase seco) com sabão neutro.
Mas em peças de brechó, é comum o couro estar com acúmulo de pó ou marcas — nesses casos, vale usar saddle soap (ou produto específico para couro), com uma escova de cerdas macias e um pouco de água.
Esfregue suavemente, remova o excesso com pano úmido e seque bem em seguida.
O forro pode ser limpo com uma mistura caseira: sabão neutro, uma gota de amaciante e um pouquinho de álcool, aplicada com pano levemente umedecido. Isso ajuda a remover suor e odores acumulados.
Deixe secar em local arejado, sempre fora do sol.
Após a limpeza, hidrate o couro com produto específico ou um pouco de vaselina, testando antes em uma área escondida.
Guarde pendurado, sem plástico, para manter a peça ventilada e evitar ressecamento.

Camurça / Nobuck
Mais delicados que o couro liso, absorvem sujeira com facilidade e marcam com atrito ou umidade.
Existem produtos específicos no mercado que limpam e protegem sem danificar — como espumas secas, sprays impermeabilizantes e escovas próprias para camurça.
Quando não uso produto, limpo com pano macio, um pouquinho de sabão neutro e água, só se a peça estiver realmente suja.
Aplique com delicadeza e retire o excesso com pano seco, sem esfregar.
Para hidratar ou recuperar a aparência ressecada, uso uma mistura leve de água e condicionador aplicado com pano limpo.
Sempre que for escovar, use cerdas macias — escova dura risca ou agride a superfície.
O forro pode ser limpo do mesmo jeito que o couro liso: com sabão neutro, uma gota de amaciante e um pouquinho de álcool diluído em água, aplicado com pano úmido.
Guarde longe da umidade, de preferência envolto em tecido leve (como algodão ou TNT).

Courino (PU ou material sintético com aparência de couro)
Usado em jaquetas, saias e detalhes de bolsas ou calçados.
Limpe com pano macio e levemente úmido, apenas o necessário.
Evite calor direto, atrito com superfícies ásperas e exposição prolongada ao sol.
Guarde pendurado sempre que possível — ou, se dobrar, intercale com papel de seda para evitar marcas.
Evite guardar em locais abafados ou sem ventilação.
De tempos em tempos, aplique uma fina camada de vaselina ou creme neutro para manter o acabamento mais flexível (sempre testando antes em uma área escondida).
Limpezas regulares, mesmo sem sujeira visível, ajudam a conservar o material por mais tempo.
Mesmo com todos os cuidados, materiais como courino (PU) têm uma durabilidade limitada — eles costumam descascar com o tempo, principalmente se a peça for antiga ou tiver sido pouco usada e mal armazenada.
Aqui no No Waste, esse tipo de material costuma ser evitado na curadoria justamente por isso: é difícil prever o momento em que ele vai começar a se deteriorar. Se você já tem uma peça assim no armário, esses cuidados ajudam a preservar por mais tempo — mas é sempre bom observar sinais de ressecamento nas áreas de atrito.
Lã, seda e outras fibras animais
Fibras de origem animal — como lã, cashmere e seda — não são as mais comuns em guarda-roupas no Brasil, mas aparecem em peças de frio, casacos, tricôs e itens mais sofisticados. São sensíveis ao calor, à fricção e à umidade — e exigem cuidado tanto na lavagem quanto no armazenamento, principalmente por causa de traças.

Lã (inclui merino, alpaca e similares)
Presente em suéteres, tricôs, blusas de frio e algumas calças de alfaiataria.
Lave à mão, com sabão neutro e água fria. Se for usar máquina, só em ciclo suave e com saco de lavagem.
Nunca torça. Pressione com toalha para tirar o excesso de água.
Seque na horizontal, sobre superfície plana, para não deformar.
Evite atrito — bolinhas (pilling) surgem com facilidade em áreas como axila e lateral do tronco.
Guarde dobrada e limpa. Traças são atraídas por suor e perfumes — especialmente se a peça for usada e guardada sem lavar.

Cashmere
Fibra extremamente fina e leve, derivada da lã, mas ainda mais sensível.
Lave com o mesmo cuidado da lã, mas com menor frequência.
Entre usos, basta deixar a peça descansar (não precisa lavar sempre).
Ideal guardar em saquinhos de algodão, longe da umidade.
Amassa menos que a lã comum, mas perde forma fácil se for pendurado.

Seda
Encontrada em camisas, lenços, regatas e blusas dos anos 90/2000.
Lave à mão, com água fria e sabão neutro. Não deixe de molho.
Retire o excesso de água pressionando entre toalhas. Nunca torça.
Seque à sombra, longe de fontes de calor.
Para passar, use um pano fino por cima e ferro morno.
Evite borrifar perfume ou desodorante direto no tecido — pode manchar fácil
Misturas comuns e o que observar
Muita gente acha que saber o tecido principal é suficiente — mas, na prática, a maioria das peças é feita de misturas. Essas combinações mudam o toque, o caimento e principalmente a forma como a peça reage ao tempo e à lavagem.
Aqui vão algumas misturas frequentes e o que vale observar:
Algodão + Poliéster
A maciez aumenta, mas o toque perde a textura natural do algodão.
Cria aparência “limpa” por mais tempo, mas pilling aparece fácil com atrito.
Retém odor com mais facilidade que o algodão puro.
Lave sempre do avesso para preservar a superfície e evitar bolinhas.
Lã + Acrílico
O acrílico dá leveza e custo mais baixo, mas a fibra perde parte da respiração térmica.
Esquenta bem, mas abafa mais que a lã pura — e costuma causar mais suor.
Forma bolinhas com muito mais facilidade, especialmente em tramas mais abertas.
A textura é menos macia e o toque pode parecer mais “seco”.
Prefira lavagem à mão e secagem na horizontal — a mistura não tolera muito manuseio.
Viscose + Poliéster
A viscose dá fluidez e toque fresco, mas o poliéster reduz a respirabilidade.
A mistura fica com aparência mais “sintética”, mesmo sendo leve.
É uma combinação instável: encolhe fácil, mas não retorna ao formato original.
Perde o caimento original mais rápido que viscose pura bem cuidada.
Lave rapidamente, sem deixar de molho, e seque no cabide ou na horizontal.
Poliéster + Elastano
Visualmente parece firme e lisa, mas o elastano “relaxa” com o tempo — especialmente nas bordas da peça.
A elasticidade pode mascarar sinais de desgaste (como afrouxamento ou perda de forma).
É uma mistura comum em roupas ajustadas que, quando não bem cuidadas, perdem a estrutura antes de mostrar sinais visuais de desgaste.
O toque pode parecer “borrachudo” com o uso frequente.
Evite centrifugar ou secar com calor, para manter a elasticidade por mais tempo.
Linho + Algodão
O algodão suaviza o toque áspero do linho, mas a peça ainda amassa bastante.
Tem visual mais rústico, mas com caimento mais estruturado e menos seco que o linho puro.
Amacia com o tempo, e é menos rígido ao toque.
Encolhimento moderado: mais que algodão, menos que linho puro.
Lave em água fria e seque pendurado para manter o formato e facilitar ao passar.
Misturas podem equilibrar conforto, durabilidade e estética — mas também escondem fragilidades que só aparecem com o uso. Saber a composição ajuda a entender como a peça vai se comportar ao longo do tempo — e a evitar surpresas na primeira lavagem.
Esse conteúdo foi feito com base na prática: no que já testamos por aqui, no que funcionou e também no que nem sempre dá certo.
Não existe uma regra única que sirva pra toda peça. O que funciona pra uma camisa pode não funcionar pra um suéter, e tudo bem — o cuidado também é feito de tentativa.
Sempre que surgir algo novo, esse post será atualizado. E se bater a dúvida com alguma peça específica, é só chamar.
✶ Veja também: guia sobre lavagem de peças vintage
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