top of page

O que mudou no meu olhar depois de tanto tempo garimpando

  • Foto do escritor: No Waste Brechó
    No Waste Brechó
  • há 3 dias
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 20 horas

Garimpar muda o jeito como a gente olha pra roupa — e, aos poucos, muda o jeito como a gente olha pra muitas outras coisas também. No começo, eu me guiava mais pelo visual. Queria peças diferentes, claro, mas ainda tinha aquela ideia meio automática de “roupa nova”.

Com o tempo, isso foi virando outra coisa. Hoje, se a peça é nova no meu armário, ela é nova pra mim — não importa se já teve dono antes.

Com o garimpo, comecei a prestar atenção em coisas que antes passavam batido: o tipo de tecido, o acabamento, o peso da peça na mão. Descobri que eu amo a sensação de achar algo que não é todo mundo que vai ter. Além disso, a qualidade de muitas peças antigas é incomparável. Isso me fez parar de romantizar tanto a compra em loja. A real é que tem muita roupa por aí. Muita coisa boa, durável, que já existe e só precisa de um novo uso. Claro que às vezes eu compro em loja também — tem peças que não encontro em brechó. Mas a forma como eu escolho mudou completamente.

Flatlay com jaqueta estampada em azul e calça jeans vintage.
Uma Levis Orange Tab que garimpei na italia e uma jaqueta que garimpei em Buenos Aires, meus xodós.

Com o tempo, o olhar foi ficando mais atento, mais treinado. E não só pra roupa. Entender sobre corte, material e acabamento me levou a prestar atenção em outras áreas também: design, móveis antigos, decoração, história. Parece que uma coisa puxa a outra. O que começou como escolha estética virou também curiosidade, pesquisa, referência.

E esse movimento não ficou só comigo. Sem querer, acabei influenciando gente ao meu redor — inclusive meu pai, que no começo tinha preconceito com coisas usadas, tanto em roupa quanto em móveis.

Composição com tapetes vintage sobrepostos e móveis de madeira com estofado floral. A luz natural destaca as texturas e o clima de memória do ambiente.
Tapete garimpado em 2025, pra substituir o tapete aqui de casa.

Hoje ele compra peças do meu brechó, pergunta o que acho de trocar algum móvel lá de casa por algo mais antigo, com história. Ver essa mudança acontecer aos poucos me fez perceber que o olhar atento se espalha. Às vezes, a maior transformação não é a peça em si, mas a forma como a gente começa a enxergar o valor dela.


Mas o outro lado é que, às vezes, esse olhar constante cobra um preço. Fica mais difícil se encantar com coisas novas — especialmente quando vêm de lojas ou de fast fashion. Mesmo quando a peça é legal, tem uma trava. Como se fosse preciso justificar tudo o tempo todo. E isso pode esvaziar um pouco o prazer de simplesmente gostar.

Além disso, tem a comparação. A rede social é cheia de referência o tempo todo, e mesmo sabendo o que me move, às vezes me pego comparando o meu processo com o de outros brechós. O que eu achei, o que eu deixei passar, o que os outros estão postando. Isso mexe. Principalmente quando o olhar que eu construí com tanto cuidado começa a parecer insuficiente diante de um feed. Mas nessas horas eu tento lembrar: curadoria não é sobre quantidade ou estética fácil — é sobre coerência. E isso leva tempo.


No fim, acho que o maior impacto de tudo isso não tá só nas roupas que eu escolho, mas no jeito como eu aprendi a observar. O garimpo me ensinou a olhar com mais calma, com mais intenção. Nem sempre acerto. Às vezes me cobro demais, me comparo, fico exausta. Mas ainda assim, quando eu encontro aquela peça certa — aquela que parece que esperava ser vista —, eu lembro por que continuo.

Não é só sobre encontrar uma peça. É sobre reaprender a ver valor nas coisas. Dar uma nova chance pra elas — e, às vezes, pra mim também.



Comments


background2.jpg

Quer receber as postagens do No Waste Journal? Inscreva-se!

Inscrição feita com sucesso!

  • Instagram
  • Spotify
  • TikTok
  • YouTube
bottom of page